eu a sinto veloz.
O tempo enlouquecido, os cheiros, os sentimentos sem nome, a raiva sem motivo, a consciência humana, pequena pequena, a ansiedade nas unhas e o instinto no tato. O toque. Partículas microscópicas de um enorme 'sei lá' me atravessam os poros, me atingem os músculos, daí aquele amontoado de cores passa ventando por mim e eu sinto veloz cada detalhe, cada batimento, e meu corpo todo adormece, orgasmo, luz, branco, minha mente e minhas mãos estão formigando mas alguém me dê um papel, rápido, porque eu preciso escrever. Isso tem nome de inspiração.
Quando escrevo estou morta, crio através de palavras uma dor inventada, porque tudo eu deixo de sentir. Sou humana, mas me falta fôlego narrativo pra sentir as pessoas. Se entendem o que escrevo sobre elas, é porque também estão mortos. Escrever é uma dor inventada, é vida por um triz, contagem regressiva do coração, que dá saltos e faz-me engolir compassos. Mas os pulsos, eu ainda os sinto velozes.