right now i wish i was older
and right now you look so simple;
t&s.
De repente saiu o sol, puf!
Tempo de voltar a ser caseira, nerd, hopeless, metida nos quadrinhos e nos fones de ouvido. Não.
Tempo de preparar meu futuro de comedora de geléia.
Incrível, mas Tegan and Sara são talvez as bichinhas que melhor me fazem pensar sobre o meu futuro, e por favor, não estou falando de trabalhar ou de ter filhos. Sinceramente, são só duas gêmeas lésbiquinhas fazendo músicas que nem chegam perto de ser as melhores do mundo, são parte de uma realidade longe de ser a minha, mas ao mesmo tempo são tão próximas, tão humanas e de certa forma acolhedoras que qualquer momento ouvindo suas vozes pode ironicamente me vir como um tapa na cara. Fazem-me pensar sobre a sensação de não ter adquirido porcaria de conhecimento nenhum em relação a tudo que passou, às pessoas e aos sentimentos ao meu redor, mas mesmo assim tido coragem de forjar uma certa iniciativa, sim, fazem-me enxergar a maneira como eu lido com essas coisas atualmente e principalmente mostram-me a noção de que tudo e absolutamente tudo é passageiro, e que um dia eu não estarei mais morando aqui e vendo as mesmas pessoas queridas de sempre da forma que eu via e vejo, tomando o mesmo café e o mesmo chá verde e os mesmos cubos de gelo no mesmo lugar todos os dias, mas, bom... não sei. Não sei de nada sobre pessoas e sentimentos, nunca soube, não sei porque dói às vezes, não sei pra quê o medo constante de perdê-los. Sei só que é muito amor. E que talvez, eu já não seja daqui.
Talvez eu seja texana, ou da Pensilvânia, ou de um bairrozinho miseravelmente caipira de Vancouver, não sei, não sei. Ainda piso em falso, ainda é tudo abstrado. Sei que moro em algum lugar escondido nesse mundo, onde as pessoas ouvem Bright Eyes e comem geléia diretamente do pote. Já imaginou? E sorriem sempre, porque, né, é isso que se faz. Eu sou isso. Sou sorriso, sou Bright Eyes. Sou simples, bucólica, não sinto ciúmes e nem necessidade de cobrar coisas dos outros, amo-e-só, ao invés de amo-e-sofro. Assim como Bright Eyes, Tegan and Sara me faz pensar sobre aprumar logo as malas, perder alguns minutos doloridos me afundando em lágrimas e abraços apertados no aeroporto, chegar depois de dias em um lugar completamente estranho e aprender na marra, seja lá em que língua, a chamar aquilo de amor. Daí com o tempo, criar de vez gosto por aquilo, criar raízes e começar de vez a comer a tal geléia-caseira-diretamente-do-pote, sim, daqueles potes de vidro tampados com um paninho xadrês que a gente vê nos filmes e nos desenhos quando os personagens estacionam o carro num lugar bem lindo para estender a toalha do pic-nic. Sou o pic-nic. Comerei a geléia de colher e o farei de gosto, vestindo uns jeans muito velhos dobrados até os joelhos com os pés enfiados em um lago no fundo do quintal de uma casa com muito mato e girassóis e gurias de trancinhas e sardinhas perambulando por aí e conversando com os gatos no telhado, com as joaninhas nas flores, com os cães nas coleiras, e os pés meus ainda enfiados no lago da casa, uma casa no interior de um país qualquer, fazendo um certo frio, fazendo um certo charme, fazendo certas caretas, e cafés, e cafunés, escrevendo e perfumando cartas, projetando carinhos e desenhando saudades, e de repente sem perceber esboçar teu nome na areia e no céu e nos astros, tirar fotografias e poder finalmente dizer "Nossa, então a vida é isso. Puxa.", e lembrar, lembrar muito de tudo, dos cubos de gelo que derretiam enquanto conversa ia conversa vinha naquele café-de-todos-os-dias, conversa ia e vinha e o sol e a lua também, enquanto ríamos e nem percebíamos. Eu me lembraria de tudo, da sensação de não ter adquirido porcaria de conhecimento nenhum em relação às pessoas e aos sentimentos ao meu redor, mas mesmo assim tido coragem pra... pra quê? Mesmo assim tendo pisado em falso, falso brilhante, e tido coragem. Coragem, coragem e coragem.