terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Anotações de Férias.

Eu amo mesmo é São Paulo: estou muito feliz por passar dias aqui, respirando o ar dessa cidade de céu aconchegantemente triste. Explicar o motivo dessa felicidade é complicado, porque dessa forma esbarro nas raias do impossível. Mas Campinas tem me dado calafrios. Pensar nas pessoas, nas ruas, nos ônibus de Campinas tem me dado calafrios. A minha realidade tem me tirado do sério, pronto.
E não tenho medo de fantasma no prédio, não. Não tenho medo de barulhos que ouço de madrugada, vindos da parede, ou do chão, ou da porta do banheiro. Nem de ti tenho mais medo. Tudo que já vivi contigo que tenha me arrancado um sorriso agora está ali, no passado, e não tem coisa que me assusta mais do que o presente.
Não te amo mais. Fácil isso, né?
Eu amo mesmo é São Paulo, é Santo André, e é Rio de Janeiro. Amo enchergar possibilidades, no óbvio e até no improvável. Dessa forma aprendo a ser livre.
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Thanks, mês de janeiro.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Feliz 2009!

Antes tarde, do que falso.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

E ainda.

"Ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar perdendo folhas lá bem ao sul e ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em vermes nas margens, ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você, ah, se ousássemos..."

Caio Fernando! :)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Carta I, Ao Querido.

Meu Querido,

Acho que passou. Sim, passou. Ventou. Foi-se. Acho que estou curada, livre de ti.

Há muito tempo não sinto vontade de escrever-te. Miúdas alegrias cotidianas têm me bastado, essas são impossíveis de se compartilhar. Bem me lembro, cheguei a te oferecer a minha dor. Ofereci ombro, coração e corpo inteiro, quis pintar teu nome no céu, mas para isso nunca tive tamanho ou talento. Quis te gritar um mundo em declarações e não tive peito, não tive voz. Se eu disser que eu tremia? Meu Querido, eu tremia. Eu tremia até para atender o telefone, meus sentidos se confundiam mas mesmo assim tive força pra te estender o braço, caso precisasse. Mas você nunca precisou. Você nunca precisou de braço nem de nada meu, isso tanto me doía, mas e agora? Certo, agora que estou curada, nada do que tenho em lembrança me faz sentido. Ofereci uma mão, duas; estive a teu lado na queda e até quando subiu de volta. Sinto-me agora como se fosse uma astronauta: no silêncio do espaço eu pude assistir a tua 'decadência'. Eu estava lá, sim, vendo você cair. Tu que não enxergaste, mas sempre estive assistindo o espetáculo de fora, sofrendo junto e muito bem calada: sabes que sou de me preservar. E como doía. Amor meu, doía, sim. A impotência que eu sentia não cabe aqui, de te ver cair e não poder impedir a gravidade. Mas e agora? Hoje estou curada. Quero tirar fotos. Quero aprender línguas. Quero beijar meus três filhos todos os dias, comendo geléia do pote.

Ainda estou aqui sempre.

Um beijo,
d'A Querida.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Sobre os Potes de Geléia.

right now i wish i was older
and right now you look so simple;

t&s.

De repente saiu o sol, puf!
Tempo de voltar a ser caseira, nerd, hopeless, metida nos quadrinhos e nos fones de ouvido. Não.
Tempo de preparar meu futuro de comedora de geléia.


Incrível, mas Tegan and Sara são talvez as bichinhas que melhor me fazem pensar sobre o meu futuro, e por favor, não estou falando de trabalhar ou de ter filhos. Sinceramente, são só duas gêmeas lésbiquinhas fazendo músicas que nem chegam perto de ser as melhores do mundo, são parte de uma realidade longe de ser a minha, mas ao mesmo tempo são tão próximas, tão humanas e de certa forma acolhedoras que qualquer momento ouvindo suas vozes pode ironicamente me vir como um tapa na cara. Fazem-me pensar sobre a sensação de não ter adquirido porcaria de conhecimento nenhum em relação a tudo que passou, às pessoas e aos sentimentos ao meu redor, mas mesmo assim tido coragem de forjar uma certa iniciativa, sim, fazem-me enxergar a maneira como eu lido com essas coisas atualmente e principalmente mostram-me a noção de que tudo e absolutamente tudo é passageiro, e que um dia eu não estarei mais morando aqui e vendo as mesmas pessoas queridas de sempre da forma que eu via e vejo, tomando o mesmo café e o mesmo chá verde e os mesmos cubos de gelo no mesmo lugar todos os dias, mas, bom... não sei. Não sei de nada sobre pessoas e sentimentos, nunca soube, não sei porque dói às vezes, não sei pra quê o medo constante de perdê-los. Sei só que é muito amor. E que talvez, eu já não seja daqui.
Talvez eu seja texana, ou da Pensilvânia, ou de um bairrozinho miseravelmente caipira de Vancouver, não sei, não sei. Ainda piso em falso, ainda é tudo abstrado. Sei que moro em algum lugar escondido nesse mundo, onde as pessoas ouvem Bright Eyes e comem geléia diretamente do pote. Já imaginou? E sorriem sempre, porque, né, é isso que se faz. Eu sou isso. Sou sorriso, sou Bright Eyes. Sou simples, bucólica, não sinto ciúmes e nem necessidade de cobrar coisas dos outros, amo-e-só, ao invés de amo-e-sofro. Assim como Bright Eyes, Tegan and Sara me faz pensar sobre aprumar logo as malas, perder alguns minutos doloridos me afundando em lágrimas e abraços apertados no aeroporto, chegar depois de dias em um lugar completamente estranho e aprender na marra, seja lá em que língua, a chamar aquilo de amor. Daí com o tempo, criar de vez gosto por aquilo, criar raízes e começar de vez a comer a tal geléia-caseira-diretamente-do-pote, sim, daqueles potes de vidro tampados com um paninho xadrês que a gente vê nos filmes e nos desenhos quando os personagens estacionam o carro num lugar bem lindo para estender a toalha do pic-nic. Sou o pic-nic. Comerei a geléia de colher e o farei de gosto, vestindo uns jeans muito velhos dobrados até os joelhos com os pés enfiados em um lago no fundo do quintal de uma casa com muito mato e girassóis e gurias de trancinhas e sardinhas perambulando por aí e conversando com os gatos no telhado, com as joaninhas nas flores, com os cães nas coleiras, e os pés meus ainda enfiados no lago da casa, uma casa no interior de um país qualquer, fazendo um certo frio, fazendo um certo charme, fazendo certas caretas, e cafés, e cafunés, escrevendo e perfumando cartas, projetando carinhos e desenhando saudades, e de repente sem perceber esboçar teu nome na areia e no céu e nos astros, tirar fotografias e poder finalmente dizer "Nossa, então a vida é isso. Puxa.", e lembrar, lembrar muito de tudo, dos cubos de gelo que derretiam enquanto conversa ia conversa vinha naquele café-de-todos-os-dias, conversa ia e vinha e o sol e a lua também, enquanto ríamos e nem percebíamos. Eu me lembraria de tudo, da sensação de não ter adquirido porcaria de conhecimento nenhum em relação às pessoas e aos sentimentos ao meu redor, mas mesmo assim tido coragem pra... pra quê? Mesmo assim tendo pisado em falso, falso brilhante, e tido coragem. Coragem, coragem e coragem.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Sobre a Solidão; Para F.S.

Entender, é trancar-se dentro da palavra.
É um outro nível da ignorância:
Bastaria um toque, se fôssemos livres.

...

Queria ser do século XVII: arfar o peito e ajoelhar num confessionário de madeira de lei. E eu não entendo porra nenhuma de madeira; só entendo de culpas. Mas é negra a solidão de quem escreve. Na casa dos meus avós tinha móveis negros. Já não tenho mais ninguém para mexer em gavetas e tomar Coca-Cola pequena no gargalo...



adaptado da moça das dores do amor romântico, Fernanda Young.

sábado, 3 de janeiro de 2009

"Não é saudade,

porque para mim a vida é dinâmica e nunca lamento o que se perdeu, mas é sem dúvida uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde."


Ela estava contando que fizera dezesseis anos semana passada e que tinha ficado completamente louca como quem acabava de fazer quarenta, talvez não pelo peso da idade - e que idade? criança! -, talvez o dia do surto tenha apenas coincidido com o dia de seu nascimento, quem sabe, não sabia, mas contava mesmo assim que no seu aniversário tinha ficado completamente louca o dia inteiro, ainda por cima um sábado, e que sentia vontade de escrever um conto que começasse assim, aos dezesseis anos ela enlouqueceu completamente e de súbito abriu a janela do quarto e pôs-se a dançar nua sobre o telhado gritando muito alto que precisava de espaço, e pediu também um segundo chope enquanto a moça com quem conversava achava que era-um-bom-começo-se-ela-soubesse-desenvolver-bem-a-trama, mas ela apagou o cigarro e resmungou que trama, cara, eu não sei desenvolver bosta nenhuma, tenho preguiça de imaginar o que vem depois, e então elas riram como se aquilo não tivesse importância, tiraram os sapatos e melhor se acomodaram, e riam, e bebiam, e fumavam e alimentavam aquele momento e aquela amizade com assuntos que realmente não tinham importância, não tinham bosta de importância nenhuma, porque quando se tem dezesseis anos já se deve saber como camuflar as suas próprias dores, porque ninguém está nem aí se você chorou sozinha a madrugada toda: ninguém, está, nem, aí. Ponto. E como tudo nessa vida, como tudo nesses seus dezesseis-anos-de-loucura ela tinha mesmo preguiça de arranjar qualquer solução, fazia sempre tudo pela metade, teatro academia judô karate ginástica natação curso de pintura alemão inglês espanhol chinês esperanto, até sexo, gente, não tinha paciência pra nada, era tudo pela metade, achava chato pegar um livro e ler gostoso até os olhos começarem a pesar, tinha preguiça das pessoas e esperava sempre demais delas, esperava que todos a quisessem o tempo todo, esperava que qualquer estranho na rua entendesse o que diabos ela estava fazendo nua no telhado e porquê porra ela precisava de espaço, porque sabe, antigamente as coisas eram mesmo assim, o mundo sempre foi muito grande e acolhedor e ela se sentia no centro de tudo, mas agora, de cima do telhado, com suas roupas penduradas na janela ela via como as pessoas eram pequenas dentro de suas casas, suas 'tocas', seus ternos, seus medos, mentiras, orgulho e tudo o mais. Eu sou grande sim, ela disse pouco antes de apagar as luzes e cair na cama. Eu sou grande e amanhã eu começo a escrever. Ponto.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Adeus ano novo? Talvez.

Como já era previsto pela tradição, os restos da escassa dignidade do dia apodreciam entre o cheiro de frutas-maduras-até-demais, fumaça de fogos, o que sobrou do peru de natal e, claro, o indispensável champagne barato.
Cinco para meia-noite e ela não se lembrava de mais nada; de repente adormeceu de bruços no sofá com a roupa e quem sabe até com os calçados da noite anterior, cabelos com aquele cheiro de 'ontem', sendo já quase dia, estando já quase lúcida, mas ainda incapaz de sentir qualquer mudança em relação ao tempo e ao ano que acaba de ir embora, meu deus, vai-se tão discreto, será mesmo já 2009?, ora se já estou aqui, com o cabelo e a maquilagem desse jeito, agora já pouco me importa se é doismilenove noventenove doismilequinze; a única questão é que eu-preciso-dormir-por-amor-de-Deus. Boa noite, pois.
Mas ai, esse sol na cara. Quem foi que te chamou, sol? Me deixa, vá. A festa é minha. Me deixa fingir que ainda é ontem. Me deixa afundar em escuridão e nostalgia, só hoje, ela pensava, me deixa, e quase (quase!) conseguia dormir de volta, já esboçava um sonho, dois, mas ai, esses passarinhos cantando. Meu deus meu deus, não me diga que já amanheceu. Ai, ai. O ano novo. O ano nove. Agora sim, a ficha caía e ela pensava aflita - pensava o quê? nem ela sabia! - , pensava talvez, é dia primeiro e eu estou aqui talvez com essas olheiras e a maquilagem talvez borrada por cima delas, o mundo talvez explodindo em alegria-pelo-futuro-que-já-começou e eu talvez presa aqui sem acreditar, ai não, a casa está absolutamente uma zona, a casa está talvez de pernas para o ar e meus pais estão talvez para chegar de viagem, o-que-fazer-o-que-fazer, ela se perguntava aflita, o que fazer meu deus nesse ano de 2009, as mãos na testa, o remédio pra dor de cabeça talvez já guéla abaixo, meu deus, o ano mal chegou e já tudoestádepontacabeça, seatropelandoassim, tudo incerto, tudo talvez.