Ó, nem te conheço mas vou dizer que eu devo ter algum tipo anormal de Déficit De Atenção. Juro, cara. Por deus.
Se não me arranjam alguma bobeirinha pra eu ocupar a mente sou capaz de perder meu dia inteiro olhando pro teto. A imaginação monopoliza totalmente o resto dos comandos, meu, é a maior doideira. E pasme, às vezes nem a Patti Smith gritando GLORIA em 75 não me tira dessa nóia. Então eu leio livros, e leio qualquer coisa adoidada pra contornar isso. Pra me fixar em algo, saca, e apagar todo o resto. Os livros são meu brinquedo, minha chupeta e minha Ritalina, né, já que minha mãe odeia que eu tome esses remédios. Ah, e eu leio tudo de madrugada, mesmo, porque também sofro de insônia.
Ui, perdão. Meu nome é Emília, aliás.
Meu nome é Emília e eu estou entediada. Ponto.
Também escrevo o tempo todo, vezenquando é só pelo tédio, mas normalmente é pra excretar o acúmulo de carga emocional adquirido na leitura. Leio e escrevo, portanto, não só para cultivar olheiras e graus de miopia, mas porque jorrando as coisas no papel desse jeito eu passo a me conhecer melhor, né.
E cara, nem sei quem sou. Sou isso, sou aquilo, sou a puta que o pariu - podem me dizer o que for, continuo sem fazer idéia. Sou um amontoado de possibilidades, pronto. Do tipo: se eu fosse, talvez eu seria. Penso nisso às vezes. Não sei. Posso ter o potencial de um gênio, foda-se. Acima de tudo, sou fascinada pela minha própria indiferença. .
Uma pausa aqui pra eu te adivinhar: tu tava quase achando que era meu amigão, já, né? Que já sabia o bastante pra dizer que me conhece, tudo. Olha, eu sou mesmo um amorzinho, mas já vou avisando que sou também a maior vaca egocêntrica. Juro que me adoro, falei. Desde que me dou por gente, eu me adoro, de verdade. Acho até de certa forma saudável, isso. Em todos os meus 16 anos de vida, por exemplo, tem sido muito mais interessante pensar em mim do que no resto da população. Eu, eu, eu. Escrever sobre mim mesma. Esboçar conclusões sobre mim mesma. Sabe, me explorar. Tanta coisa a se descobrir, é incrível, delicioso. Mas também tanta coisa podre - fico besta, Jesus. O que me acontece é que é muita Emília prum corpo só, e às vezes elas meio que brigam aqui dentro. Doideira. E é sempre idéia demais pra pouco vocabulário, ou é aquela pré-idéia que ainda não sabe que vai ser idéia porque ainda não se concretizou, ou perdeu-se, ou vazou-se pelos meus póros, rompida por uma onda infreável de pensamentos libidinosos. Opa!
Em outras palavras, o que rola é mais ou menos o seguinte:
tou lá eu, concentrada, quase concluindo uma linha fudida de pensamentos elaborados com toda delicadeza do mundo, e pronto, dois segundos pra um pênis aparecer na testa dessa delicadeza. E de repente uma buceta. Daí um pênis e uma buceta. E depois só a buceta. E pronto, rompeu-se a linha de conclusão e lá se foi a atenção do dia.
Percebe? A inquietude jovem sempre borbulhate nos músculos e nos neurônios, "Jovem Bonito & Cheio de Potencial" como eles dizem, mas jovem todo cagado por conta dos hormônios. Quanta besteira.
A questão é que eu poderia ser genial. Juro por deus que todo mundo que eu conheço, poderia. Mas a gente sempre acaba se deixando levar pela burrice padrão de todo adolescente tapado. Ué. Bando de entediado alienado, mesmo, é claro que vai dar merda. E é claro que vai dar pênis, vai dar cu, vai dar buceta. E a gente não tá nem aí, mesmo. A gente quer pagar de informado descolado poeta descabelado revolucionário, mas não perde sequer um programa do Gordo na MTV. E na aula de história, quando o professor começa a falar do presidente americano, todo mundo dá adeus ao pênis e à MTV pra virar de esquerda. O contraste é impressionante. De repente estou numa sala com quarenta pupilos que se preocupam em detestar a Coca-Cola e o George Bush. Quarenta pseudo-marxistas mirins, envolvidíssimos. À merda. Eu, não. Eu me preocupo em escrever poemas. E todos sobre mim mesma, é claro. ..... (continua!)