terça-feira, 20 de outubro de 2009
narrow
Não pode ser. Não posso ser assim. Estar desse jeito, existir. Por quê? Ter esse formato, ser brasileira, mulher. Sinto um formigamento aqui. Será que é isso com todo mundo? Todo mundo pensa enquanto respira? Se a vida é esse formigamento, esse tremor inevitável, como calcular o seu fim? Tem gente que consegue. Mas tem aqueles que se jogam, pra bem, ou pra nunca mais. Penso que a morte pode ser previsível e até planejada, como voltar de uma viagem. Quando o momento chegar, talvez alguém com uma túnica apareça tocando violino do outro lado da rua, e então eu vou saber. Ou não. Mas de algum jeito serei avisada, i'll hear it in my head real low. Metáfora besta, mas imagino sempre aquele café antes do embarque. O último abraço apertado, as saudades antecipadas. O caminho percorrido pelo táxi antes de chegar ao aeroporto. Alguém que mira da janela uma plantação de girassóis esturricados pensando tchau, moço, pode parar o carro aqui mesmo. Preciso vomitar algo luminoso, como uma estrela de mil pontas. Tô indo morrer.