segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ps.:

Coisa insuportável, to me sentindo constantemente prorrogada. Esse ano inteiro foi uma incógnita, não, foi reticências, mas vou deixar esse tipo de reflexão lá pro dia 31 de dezembro que é pra manter a tradição do flashback meloso de fim de ano, aquele cheio de falsas saudades e o caralho, coisa que na real eu odeio, odeio remoer sem nem saber o que estou remoendo, mas esse tipo de drama anda meio inevitável - culpa do tédio! E claro, deixa pra lá mesmo: sempre bom adiar, prorrogar mais um pouquinho, não é mesmo?

Tá, você não entendeu nada. Nem eu. Mas hoje.

Hoje só quero dizer que, ai. É como se tudo o que tenho feito esteja no 'PS' do acontecimento em si. Certo, não sou Clarice nem ninguém pra querer buscar a essência do instante, mas sinto como se eu estivesse esse tempo todo atuando apenas no pós-momento de tudo, do tipo, o que tinha de me acontecer já foi e eu não sei o que estou fazendo aqui ainda, as pessoas passam por mim e me olham fixo na rua, prestes a já esboçarem um sorriso em minha direção e eu só me dou conta de cumprimentá-las quando já estou na esquina. Percebe? Daí o tempo já passou! Ai, mania essa de ficar aflito e culpar o tempo, mencionar as estações e os dias que não passam, sempre o tempo isso e aquilo, pff, besteira, o meu foco é outro. A questão é que eu não estou ligando pra esse monte de merda que poderia ter acontecido mas que eu deixei passar, ué, paciência, quem me conhece sabe, she doesn't date, she doesn't fuck, she spends more time on her own, provavelmente se apaixonando durante três segundos por aquela mocinha de dreads mal feitos que subiu no ônibus e desceu um ponto antes de mim, naturalmente sem dizer nada e - plim!, daí o instante. Essa é minha matéria. De verdade: nunca culpo o tempo, culpo o instante. Ele sim é incalculável e enlouquecedor, uma vez que começamos a pensar sobre ele e pronto, já se foi e resta-nos o tempo. Ai, o tempo. Me rendo ao tempo. Ele que me arraste!

Ponho-me então a meditar em um campo verde verde, cor da esperança como ela dizia, esperança de um dia agarrar o instante?, ponho-me longe longe de tudo quanto é barulho de gente e de relógio, consigo com muita calma enxergar os átomos de certeza girando brilhantes feito poeira sob o sol, e eu sou o núcleo, eu sou o que há de mais importante, sou o apanhador no campo das horas. É.

E caraca, ainda são 22h, vou ler um tiquinho pra dar sono e dormir bem, 'A Confissão de Leontina', coitada da Leo, menina essa, às vezes até se parece comigo. Daí que já passa de meia noite e eu nem percebo, as olheiras mais fundas que sei lá. E o campo verde verde de esperança, não sei se sonhei, se me contaram, se vi num filme, mas se me perguntarem de ontem, foi lá onde estive.

sábado, 15 de novembro de 2008

página 184.

"...mas não choro, mesmo que de repente me perceba no chão, buscando uma marca de sapato, um fio de linha ou de cabelo, os cabelos dela caiam sempre, ela os jogava sobre os telhados pelas tardes, repetindo nunca mais, nunca mais, e acreditávamos que um dia seriamos grandes, embora aos poucos fossem nos bastando miúdas alegrias cotidianas que não repartíamos, medrosos que um ridicularizasse a modéstia do outro, pois queríamos ser épicos horóicos românticos descabelados suicídas, porque era duro lá fora fingir que éramos pessoas como as outras, mas nos cantos daquele quarto tínhamos força sangue esperma, talvez febre, feito tivéssemos malária e delirássemos juntos navegando na mesma alucinação que a matéria fria da guarda da cama não traz de volta, porque tudo passou e é inútil continuar aqui, procurando o que não vou achar, entre livros que não me atrevo a abrir para não encontrar o seu nome..."

boquiaberta. é meu trecho preferido no mundo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Escrever é uma dor inventada,

eu a sinto veloz.

O tempo enlouquecido, os cheiros, os sentimentos sem nome, a raiva sem motivo, a consciência humana, pequena pequena, a ansiedade nas unhas e o instinto no tato. O toque. Partículas microscópicas de um enorme 'sei lá' me atravessam os poros, me atingem os músculos, daí aquele amontoado de cores passa ventando por mim e eu sinto veloz cada detalhe, cada batimento, e meu corpo todo adormece, orgasmo, luz, branco, minha mente e minhas mãos estão formigando mas alguém me dê um papel, rápido, porque eu preciso escrever. Isso tem nome de inspiração.

Quando escrevo estou morta, crio através de palavras uma dor inventada, porque tudo eu deixo de sentir. Sou humana, mas me falta fôlego narrativo pra sentir as pessoas. Se entendem o que escrevo sobre elas, é porque também estão mortos. Escrever é uma dor inventada, é vida por um triz, contagem regressiva do coração, que dá saltos e faz-me engolir compassos. Mas os pulsos, eu ainda os sinto velozes.

sábado, 8 de novembro de 2008

Recado Rápido

Oi!

Entre, tire os sapatos, fique à vontade, mas a casa está uma zona! E é por isso que eu perdi a continuação do último conto que escrevi, e é por isso que estava demorando pra continuar, e é por isso que estou ficando estressada, sem fôlego nem pra ir à academia, sem fôlego narrativo.

Cedo ou tarde eu volto com algo pronto.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um.

O dia nem tava tão bonito e ele nem tava tão disposto, mas levantara com vontade de andar. Pulou da cama sozinho, naturalmente, decidiu que não ia passar mais um domingo inteirinho sentindo cheiro de não ter dinheiro para arrumar a descarga do lavabo (há meses as dores de cabeça por essa descarga maldita!), ou ainda, que não ia passar o dia todo no sofá aumentando e diminuindo compassadamente o volume da televisão, a fim de poupar seus tímpanos do ensaio lírico da moça do andar de baixo, que francamente, de gostosa só tinha a bunda, porque a voz era mesmo uma desgraça.
Pois bem, domingão nublado e a ressaca moral, hm? pff, antes fosse, ele pensava, mil vezes dormir com a boca amarga seca de pinga e os cabelos ensebados, o enjôo, a culpa por ter feito sei-lá-o-que na noite anterior, mil vezes isso, tontura terrível terrível, mas ainda sim melhor seria, por ter feito alguma coisa. Mil vezes melhor. Preferia esse mal estar danado à monotonia de uma madrugada solitária de sábado, sou um bosta, que foi que fiz?, nada, ele pensava, fiquei aqui sóbrio e sozinho, amigos ele não tinha, nem punheta podia bater por faltarem as idéias, além do mais, estava sem ânimo, sem TV à cabo e com cãibra na mão esquerda. Puta merda, justo a esquerda. Arrebentara os dedos num esforço vão, coitado, quando tentava consertar a droga da descarga do lavabo, ai!, essa descarga, cara, tanto tempo que ela já tá estourada, mas como é que ela foi ficar daquele jeito? Olha, não sei, ele pensou, não-sei-não-quero-saber, só sei que o dia nem tá tão bonito e eu nem tô tão disposto, mas quero é dar o fora daqui. E foi.

(continua...)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caio Fernando Abreu.

Puta merda, o cara é bom.

Uma coisa é fato: não sou, nem nunca vou ser daquelas garotas letradas-mega que lêem de tudo e querem sempre comentar sobre o que lêem, ou sobre o que gostariam de ler, ou sobre o que nem lêem e que nem gostariam de ler mas fingem ter lido, enfim, não sou mesmo, cara, detesto esse tipinho que fuma com a ponta dos dedos e faz um puta biquinho desnecessário pra soltar a fumaça, sempre com a cabeça virada pro lado, pro alto, cruzando as pernas no bar e urgindo por um café (BEM FORTE! SEM AÇÚCAR, PLEASE, QUERIDO!), enquanto comenta sobre a poesia dura e crua nos livros de Graciliano Ramos e o caralho a quatro... ah, vão à merda, to aqui sozinha, sem café, sem bar e sem cigarro, to aqui pra falar rapidinho, orgulhosamente com toda ignorância do mundo, sobre o Caio e ponto final.


Onde é que eu tava? Ah sim, puta merda, o cara é bom mesmo, me rendeu três páginas hoje, tanto que tô com esse conto no bolso, agora, que ainda não decidi como será seu fim, to também com trezentos mil textos pra passar pro blog, mas o tempo, gente, cadê tempo e vontade, cadê? Me salvem, peguei mania de Caio, essa de hipérboles, de escrever insaciáveis três mil parágrafos com pouquíssimos pontos-finais, resultado, hoje na aula não parei de escrever nunca mais. Estou 'oca', já me desfiz completamente, em BIC e nas últimas folhas do caderno de gramática, enquanto a professora tinha um chilique com o resto da turma. Sabe que, Clarice Lispector quando tava 'oca', largava os romances e começava a escrever historinhas infantis, né? Pois é, dizia ela que são mais soltas em fantasia, é uma literatura cheia de cor, não exige muito dessa coisa de selecionar palavras que atinjam os cantos mais profundos e obscuros das pessoas, como é no caso dos romances escritos às tristes tristes tristes criaturas que são os seres humanos adultos. Cara, concordo. Isso cansa mesmo a gente, sabe?
Então tá declarado: vamos todos ler Calvin & Hobbes, tomar sorvete e assistir desenhos no Cartoonetwork, até bater a maldita inspiração de novo, até eu pegar na BIC de novo, até eu me sentar de novo com alguma neuróticazinha-metida-a-moderninha numa mesa de bar, pra me irritar com a forma com que ela gesticula e fala sobre Graciliano Ramos, Graciliano isso, Graciliano aquilo... ah, vão à merda.