Coisa insuportável, to me sentindo constantemente prorrogada. Esse ano inteiro foi uma incógnita, não, foi reticências, mas vou deixar esse tipo de reflexão lá pro dia 31 de dezembro que é pra manter a tradição do flashback meloso de fim de ano, aquele cheio de falsas saudades e o caralho, coisa que na real eu odeio, odeio remoer sem nem saber o que estou remoendo, mas esse tipo de drama anda meio inevitável - culpa do tédio! E claro, deixa pra lá mesmo: sempre bom adiar, prorrogar mais um pouquinho, não é mesmo?
Tá, você não entendeu nada. Nem eu. Mas hoje.
Hoje só quero dizer que, ai. É como se tudo o que tenho feito esteja no 'PS' do acontecimento em si. Certo, não sou Clarice nem ninguém pra querer buscar a essência do instante, mas sinto como se eu estivesse esse tempo todo atuando apenas no pós-momento de tudo, do tipo, o que tinha de me acontecer já foi e eu não sei o que estou fazendo aqui ainda, as pessoas passam por mim e me olham fixo na rua, prestes a já esboçarem um sorriso em minha direção e eu só me dou conta de cumprimentá-las quando já estou na esquina. Percebe? Daí o tempo já passou! Ai, mania essa de ficar aflito e culpar o tempo, mencionar as estações e os dias que não passam, sempre o tempo isso e aquilo, pff, besteira, o meu foco é outro. A questão é que eu não estou ligando pra esse monte de merda que poderia ter acontecido mas que eu deixei passar, ué, paciência, quem me conhece sabe, she doesn't date, she doesn't fuck, she spends more time on her own, provavelmente se apaixonando durante três segundos por aquela mocinha de dreads mal feitos que subiu no ônibus e desceu um ponto antes de mim, naturalmente sem dizer nada e - plim!, daí o instante. Essa é minha matéria. De verdade: nunca culpo o tempo, culpo o instante. Ele sim é incalculável e enlouquecedor, uma vez que começamos a pensar sobre ele e pronto, já se foi e resta-nos o tempo. Ai, o tempo. Me rendo ao tempo. Ele que me arraste!
Ponho-me então a meditar em um campo verde verde, cor da esperança como ela dizia, esperança de um dia agarrar o instante?, ponho-me longe longe de tudo quanto é barulho de gente e de relógio, consigo com muita calma enxergar os átomos de certeza girando brilhantes feito poeira sob o sol, e eu sou o núcleo, eu sou o que há de mais importante, sou o apanhador no campo das horas. É.
E caraca, ainda são 22h, vou ler um tiquinho pra dar sono e dormir bem, 'A Confissão de Leontina', coitada da Leo, menina essa, às vezes até se parece comigo. Daí que já passa de meia noite e eu nem percebo, as olheiras mais fundas que sei lá. E o campo verde verde de esperança, não sei se sonhei, se me contaram, se vi num filme, mas se me perguntarem de ontem, foi lá onde estive.