E ainda que, sei lá. Eu pulasse da janela. Agora. Já pensou? Apertando no peito todas as cartas que eu jamais enviei.
Certo, é provável que eu nem me machucasse. É bem provável que meus joelhos suportassem a queda, uma vez que estou no primeiro andar de um prédio para velhinhos, e tem um jardim enorme lá embaixo. Mas supondo.
Ainda que eu me fodesse, estatelada, e que fosse o último andar de um puta arranha-céu, e que alguém, de uma outra sacada, de um outro prédio, acompanhasse a tragetória inteira. Acho que eu ia querer estar bonita. Pro 'alguém', não. Pra você.
Meio besta, né? Você nem ia ver, você estaria tomando um Milkshake sozinha no Starbucks, pensando no Beto. Talvez esperando o Beto. Talvez escrevendo um bilhetinho no guardanapo pro Beto, como eu fazia sempre quando te esperava no Fran's. Não, não. Não faz sentido eu querer estar bonita pra alguém que nem sabe que eu vou morrer. Aimeudeus. Eu vou morrer. Olha isso, o dia tá lindo e eu vou morrer. E alguém com certeza comentaria no dia seguinte, 'gente, a menina pulou, linda menina, lindíssima, usava um vestido vermelho, vista de longe era como que uma rosa despetalando prematura...', meu deus, você nem ia saber que era eu. Era eu, sempre fui, as cartas, ai, gente, que estrago. Ainda que eu entregasse as cartas antes.
Ainda que eu simplesmente pulasse, de pijama, não, de vestido de formatura, a cor vermelho-sangue do tecido em movimento contrastaria com o céu, e as cartas se perderiam no azul. (Me deixa morar nesse azul?)
Alguém com certeza ia ver. Talvez o Beto visse, acho que ele ia se culpar eternamente. Isso. Vou esperar dar o horário. Às 13h ele sái do trabalho e às 13:45h ele passa pela Avenida. É isso. Não tem erro.
Ai, a vontade de doer em alguém...