domingo, 5 de julho de 2009

Alô, Eduardo? Oi... Oi? Ah, pronto. Eu sei. Eu sei. Eu sei, Eduardo, que é tarde, acontece que eu to na frente da sua casa e... é, tô, tô desabrigada, sim. Oi? Embrigada? É, também. Pode falar alto, não tenho vergonha, não. Tô aqui pra dizer coisas assim mesmo. Magina que eu ia bater aqui na sua porta se o motivo não fosse forte. Por hoje, sou mendiga! Que horror, mendiga pateta, de salto quebrado. Seu burro, não é carência, não. Quê? Que isso! Gente, que abusado, magina! Não tô te pedindo favor nenhum! Eu já te pedi alguma coisa? Eduardo, já pedi?! Não pedi, né. Ah, bom. Vim aqui anunciar, Dudu, é o seguinte, vou ocupar a outra metade da sua cama, hoje. Hehe. Não, se assuste! O sofá, isso, pode ser. Vim dormir no seu sofá. E olha que é só por hoje, viu, você bem sabe que se eu quisesse, ficaria muito mais. Não quero. Não preciso. Ah. Hahaha, ah, bom. Bonitinho. Eu sabia. Eu sabia que você ia entender. Cê lembra, né. Eu não ronco, mentiroso! Eduardo, eu não dou um pio enquanto durmo e ainda sei fazer aquele sanduíche que é bom pra cacete, haha... oi? Isso, o de Rosbife! Cê lembra! Claro que lembra. Até a Clarinha que é vegetariana lembra HAHA, ai... peraí. Não acredito, Eduardo. Eduardo, você é um merda, foi isso mesmo que eu ouvi? CHARME, Eduardo? Quem aqui tá fazendo charme? Eu lá sou mulher de FAZER CHARME? Tô pedindo tua ajuda, porra! É, é, é, tô bêbada sim, viu, tô nada, tô é louca de maconha, chapada, doidona pra caralho! Não tenho um puto na carteira e me trancaram pro lado de fora, ouviu? Foda-se, Eduardo, foda-se a impressão que eu vou causar na tua namoradinha perfeita, não tá vendo que tá um puto dum frio lá fora e que nem meia no pé eu tenho? Nem meia, Eduar... EU NÃO QUERO UM PAR DE MEIA, ANIMAL! Opa. Hehe. Animalzinho... ninguém tá nervosa, são três da manhã, pelo amor de D... isso, é verdade, cê tá coberto de razão, meu amor. Mas olha, faz favor de abrir a porra da portinha, caralhozinho, porque eu vou deitar nessa merda desse seu sofazinho da Etna e dormir feito uma PEDRA, CARALHO! Gh, pedrinha, feito uma pedrinha.

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Ai. Brigada. Ai, Eduardo, valeu mesmo. Por tudo, sabe. Puta, cara. Sem palavras. Me aturou por sete anos e agora isso. Você é um doce, juro. Um docinho. De coração, Eduardo, você é um amorzinho, às vezes eu acho ainda que gosto de você, sabe? É ridículo, eu sei, mas eu preciso confessar que nesses anos todos, sabe... ih... que foi, essa cara? Falando alto, EU? Porra, eu tava prestes a me abrir aqui pra você e... Tá. Tá bom. Desculpa, Eduardo. Desculpa então, seu merda. Meu tom de voz te perturba, é isso, né. Vai se foder, eu tô falando normal com você, não tô faltando com respeito nem nada, porra, vai então falar com aquela piranha violinista, logo. Mó intelectual, ela, né? Pff, desde quando cê entende de arte? Você é ridículo. Deve trepar mó bem, essa vadia, no mínimo. Vai lá, eu fico aqui falando sozinha, com a porta fechada, cê nem vai me ouvir. Vai dormir, vai. Me deixa. Oi? Não. Não, não tô com frio, não me venha querer fazer favores, quero porra de coberta nenhuma. Vai. Dorme. Esquece que eu tô aqui na sua sala. E na sua vida, né, Eduardo, finge que eu morri, firmeza?

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Desculpa. Ai, juro. Sou uma escrota, né, desculpa mesmo. Você é um doce... um docinho. E tá lindo de barba, ai, gente... Olha, amanhã vou embora bem cedo, prometo. Vou fazer seu sanduíche, deixar em cima da mesa e me mandar, a piran... a sua namorada nem vai perceber. Vou só deixar o lanche, aquele lá, que a Clarinha gosta. Isso, o de Rosbife. Desculpa mesmo. E obrigada. Por tudo, Dudu, por tudo. Bonitinho. Dorme bem.